sexta-feira, 23 de maio de 2025

Quando a amizade vira parte da família que a gente escolhe

Quando a amizade vira parte da família que a gente escolhe

Titus, o som do coração

Tem gente que entra na nossa vida de mansinho, sem alarde, sem anúncio. Vem pela beirada, quase que pedindo licença, sem fazer barulho. E quando a gente percebe, já puxou cadeira, já pegou café, já conhece o jeito da casa, já sabe onde dói e onde faz cócega. Já virou de casa. Já virou da gente.

E aí a gente entende: não é só amizade. É família que a vida permitiu escolher.

Porque, olha, família mesmo — daquelas de laço, de entrega, de saber só de olhar — nem sempre é feita de sangue. Às vezes, é feita de história compartilhada, de lágrima dividida, de gargalhada que ninguém entende além da gente. É feita de silêncios confortáveis, de brigas honestas, de reconciliações sem orgulho. É feita de estar. Simples assim.

Tem amigo que chega num momento em que a vida tá toda bagunçada. A gente sem rumo, sem fé, sem vontade. E ele não pergunta muito, não exige explicação. Só chega, senta do lado e diz: “Tô aqui.” E fica. Fica quando todo mundo vai. Fica quando nem a gente quer ficar com a gente mesmo.

Esses amigos viram parte do que a gente é. Sabem o tom da nossa voz quando tá mentindo que tá tudo bem. Sabem quando o olhar tá distante, quando o corpo tá presente, mas a alma tá cansada. Eles sabem — e mesmo assim, continuam. Não desistem. Não cobram máscara. Querem a gente do jeito que a gente é: torto, ferido, tentando.

E aí, meu amigo, isso vira amor. Um amor sem rótulo, sem nome certo. Um amor que não precisa ser dito o tempo todo, mas que se mostra em cada gesto. No cuidado de mandar mensagem só pra saber como foi o dia. No “senti tua falta” que vem do nada. No “tô indo aí” quando a vida aperta. No “come alguma coisa” quando a tristeza pesa. Isso é amor. E é família.

Família da alma.

Eu tenho poucos assim. Poucos, mas suficientes. Porque a verdade é que esse tipo de amizade não precisa de muitos. Um já é milagre.

E eu te falo com toda a experiência de quem já viu muita coisa nessa vida: não desperdiça esse tipo de laço. Cuida, rega, alimenta. Porque é raro. E o que é raro, é sagrado.

Tem amigo que a gente carrega na vida como quem carrega um pedaço de si. E, no fundo, é isso mesmo. Eles são partes nossas que andam por aí, com outro nome, outra história, mas com o mesmo coração pulsando ao nosso lado.

E sabe o mais bonito? É que, mesmo sem laço de sangue, eles sabem exatamente o que a gente precisa ouvir quando o mundo silencia. Eles sabem. E ficam.

> “Amigo que vira família é milagre da vida — não nasceu com o mesmo sangue, mas pulsa no mesmo coração.”

A Voz do Penhasco

A Voz do Penhasco

(Titus, o som do coração)

Em uma vila esquecida pelo tempo, onde as pedras falavam mais que as pessoas e o vento era mais confiável que qualquer promessa, havia um penhasco alto, escuro e solitário. Chamavam-no de Ouvinte Eterno.
Não era por acaso.

Diziam os anciãos — de olhos fundos e memórias cheias — que aquele lugar guardava um dom raro: devolver a quem ousasse gritar de lá o som exato de sua dor, sua verdade, sua essência.
Mas não de imediato.
Não como um eco.
O penhasco tinha sua própria lógica:

> “Primeiro ele escuta. Depois ele pensa. Só então, responde.”



E às vezes, a resposta vinha só anos depois.

As pessoas pararam de ir. Algumas diziam que era lenda. Outras, que era loucura gritar para as pedras. Mas Noel, um homem feito de dúvidas e cansaço, resolveu subir.
Ele não buscava respostas. Buscava um fim para o silêncio que o consumia por dentro.

Carregava o peso de ter deixado muitos sonhos pelo caminho. Amor, arte, tempo com os filhos, o ofício que amava — tudo trocado por certezas que não o preencheram. O rosto endurecido não combinava mais com o menino que fora. E era isso que doía mais: o sumiço do menino.

Chegou ao topo.
O vento soprou tão forte que parecia querer impedir sua fala. Mas ele gritou. Gritou como quem rasga a alma:
— “EU AINDA ESTOU AQUI?”

O som sumiu entre os vales. Noel esperou. Um dia. Dois. Três. Nada.

Voltou pra vila em silêncio. E viveu assim.
Cuidava da horta, da filha, do gato velho. Mas, por dentro, algo se abriu naquele grito.
Começou a escrever cartas que nunca enviava, riu de novo de piadas ruins, e às vezes dançava sozinho na cozinha, ouvindo músicas antigas.
Sem perceber, o som começou a voltar — de dentro pra fora.

Cinco anos depois, numa manhã de céu limpo, ele acordou com uma voz dentro do peito. Não era alucinação. Não era lembrança. Era o penhasco.

Calma. Profunda. Familiar.

> “Você nunca deixou de estar.
Só estava se ouvindo de muito longe.
Agora… você voltou a escutar.”



Noel chorou. Chorou com aquele tipo de choro que limpa, como chuva que lava telhados antigos.

E, naquele dia, decidiu subir o penhasco de novo. Não para gritar. Mas para agradecer.

Deixou lá uma pedra com seu nome e uma frase:
“Quem ouve o penhasco, encontra a si mesmo.”

Dizem que, desde então, novos viajantes começaram a subir.
Alguns gritam.
Outros apenas se sentam.
Mas todos, em algum momento, ouvem a mesma pergunta ecoar do fundo de suas almas:

> “Você ainda está aí?”



E quando respondem com sinceridade… o penhasco sorri.
Não com som, mas com vento, com luz, com uma paz que não se explica — só se sente.

O Homem que Semeava Caminhos

O Homem que Semeava Caminhos

Dizem que, em tempos antigos, existiu um homem chamado Kael, que não parava em lugar nenhum. Diziam que ele tinha os pés inquietos e um coração dividido entre mil vontades.

Kael não era triste, mas também não era inteiro. Cada vez que chegava a um povoado, plantava pequenas sementes pelo chão e partia. Quando as pessoas perguntavam por que ele nunca ficava, ele respondia: — “Não escolhi um caminho. Por isso, sigo por todos.”

Mas com o tempo, Kael começou a esquecer os nomes das cidades, os rostos dos amigos, até mesmo as canções que havia aprendido. Sentia-se leve… mas vazio.

Certo dia, uma criança lhe perguntou: — “Você já plantou uma semente que ficou para ver florescer?”

A pergunta ecoou como trovão.

Naquela noite, Kael parou. Pela primeira vez, sentou-se em silêncio e chorou. Percebeu que não escolher também é uma escolha. E que o preço da liberdade total… é a ausência de raízes.

Na manhã seguinte, Kael ficou. E onde ficou, nasceu um jardim tão bonito que virou lenda.
Porque até os ventos precisam, às vezes, de um lugar onde possam descansar.

O Espelho do Lago Inverso

O Espelho do Lago Inverso

No alto de uma montanha escondida, existe um lago onde as águas não refletem o que está diante delas, mas aquilo que o coração ainda não aceitou.
Chamam-no de Lago Inverso.

Quem se olha ali, não vê o rosto que carrega, mas a vida que poderia ter vivido. Uma vida que, em algum momento, foi deixada de lado por uma escolha, um medo ou um amor que falou mais alto.

Segundo a lenda, uma mulher chamada Sirena subiu até o lago em busca de respostas. Ela havia vivido com sabedoria, guiado famílias, ajudado seu povo. Mas em seu coração, um vazio sussurrava à noite: “E se eu tivesse seguido outro caminho?”

Diante do Lago Inverso, viu-se jovem, viajando pelos caminhos do mundo, escrevendo poesias em árvores, dançando sozinha sob a chuva. Chorou. Não por arrependimento, mas por saudade do que nunca viveu.

Ao tocar a água, o lago sussurrou:

> “A vida não é o que se vive apenas. É também o que se escolhe não viver. E honrar o que se renunciou… é parte da sabedoria.”

A Ponte dos Dois Ventos

“A Ponte dos Dois Ventos”
..
(Titus, o som do coração)

Dizem os antigos que havia, entre dois vales esquecidos pelo tempo, uma ponte feita de vento. Só podia ser atravessada uma vez. E cada pessoa que passava por ela, deixava algo pra trás — não algo que carregava nas mãos, mas algo que morava no peito.

Conta-se que a ponte foi construída pelos deuses da escolha: o Vento do Norte, que sussurra promessas, e o Vento do Sul, que traz memórias.

Um dia, um homem chamado Taren chegou à ponte com os bolsos cheios de sonhos e os olhos pesados de dúvidas. De um lado, a vida que conhecia: sua vila, sua família, a rotina que o fazia invisível. Do outro, uma terra que ele só havia visto nos mapas dos corajosos: possibilidades, riscos, liberdade.

Os ventos sopram forte quando alguém hesita. E ali, entre o passo e o medo, Taren ouviu a ponte falar — não com palavras, mas com um silêncio que sacode o coração.

“Você pode atravessar, Taren,” disse o Vento do Norte, “mas deixará para trás o que lhe é confortável.”
“E se ficar,” sussurrou o Vento do Sul, “jamais conhecerá o que poderia ter sido.”

Taren escolheu atravessar.

E a ponte se desfez atrás de seus pés, como prometido.
Nunca mais voltou. Nunca mais foi o mesmo.

Dizem que ele encontrou o que buscava, mas também aprendeu o valor do que perdeu. E que todas as noites, quando o céu ficava quieto, ele sentava sob uma árvore solitária e conversava com os ventos que haviam mudado sua vida.

Porque toda escolha verdadeira, dizem os sábios, tem um preço.
E todo preço pago com coragem se transforma em canção dentro da alma.

Quando a amizade vem de onde a gente menos espera

Quando a amizade vem de onde a gente menos espera

Titus, o som do coração

Tem amizade que a gente nunca imaginou que fosse acontecer. Sabe aquela pessoa que você olhou de cara e pensou: “ih, não vai dar liga”? Pois é. A vida, com esse jeitinho dela de surpreender, adora provar que a gente não sabe de nada.

É nessas horas que nasce a amizade improvável. Aquela que começa com um estranhamento, um julgamento bobo, uma diferença escancarada. Mas aí, no meio do caminho, surge uma conversa mais sincera, uma necessidade em comum, um momento difícil que junta os dois... e pronto: vira afeto.

Já vivi isso algumas vezes. Amizade que começou num desentendimento, num desacordo, num “não fui com a cara”. E, de repente, a convivência foi revelando a pessoa por trás da primeira impressão. Fui vendo camadas, histórias, dores parecidas com as minhas. E aí, o que era distância virou ponto de encontro.

A verdade é que às vezes a gente coloca rótulo demais nas pessoas. Acha que já sabe quem combina com a gente, quem tem o “nosso jeito”. Mas amizade de verdade nem sempre vem pronta. Às vezes ela é lapidada com tempo, com paciência, com coragem de ver o outro além da casca.

Já vi amizade nascer entre opostos. Um falava demais, o outro era silêncio. Um era da cidade, o outro do mato. Um vivia no mundo da razão, o outro dançava com a emoção. E mesmo assim, ou talvez justamente por isso, construíram algo lindo. Porque a amizade não pede semelhança — pede presença.

Às vezes, quem a gente menos espera é quem mais vai cuidar da gente. Vai nos ouvir sem pressa, vai nos defender quando ninguém mais o faz, vai rir das nossas esquisitices em vez de nos julgar por elas.

A vida é mestra em colocar gente certa em momentos inesperados. E quando a gente se permite abrir o coração, mesmo que seja só um pouquinho, a mágica acontece. Um gesto, uma frase, uma coincidência besta... e pronto: a gente se reconhece.

E olha, tem coisa mais bonita do que isso? Ser surpreendido pela vida com uma amizade que a gente não procurava, mas precisava?

Frase de efeito pra fechar o vídeo:

> “Às vezes, o melhor encontro da vida é aquele que a gente nunca planejou — mas que chegou pra ficar, com alma, susto e verdade.”

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Amizades que o tempo não apaga

Amizades que o tempo não apaga

Titus, o som do coração

Tem gente que fica na gente, mesmo quando já não tá por perto. Às vezes passa ano, muda tudo ao redor — cidade, rotina, crenças, cabelo, endereço, até o número do celular — mas tem aquele nome que, só de ouvir, aquece o peito.

É sobre essas amizades que quero falar hoje. As que não precisam de presença constante pra continuar existindo. Porque foram feitas de alma pra alma. E quando é assim, nem o tempo, nem o silêncio, nem as mudanças da vida conseguem apagar.

Sabe aquele amigo que você não vê há tempos, mas quando encontra parece que a última conversa foi ontem? A sintonia continua igual, a risada vem fácil, a lembrança vem de repente, e a emoção escorre por dentro feito café fresco num dia frio. Esse tipo de amigo não se perde. Ele mora num lugar seguro da memória, num canto do coração onde o tempo não mexe.

Eu tenho amizades assim. Algumas começaram na infância, outras na juventude, outras ainda surgiram nos perrengues da vida adulta. E olha, não tem um dia que eu não agradeça por elas. Porque tem coisa que o tempo até tenta levar, mas não consegue. O que foi vivido com verdade, o que foi construído com afeto e cumplicidade, fica. Vira raiz.

A amizade verdadeira resiste. Ela atravessa fases, silêncios, desencontros. Não cobra presença diária, não exige justificativa. Ela entende. Sabe que a vida é corrida, que os caminhos se desenham diferente pra cada um. Mas mesmo assim, quando precisa, ela aparece. Às vezes em forma de mensagem no meio da noite. Às vezes num pensamento bom. Às vezes só com um “tô aqui”.

E nessas horas, a gente percebe: o tempo pode ter passado, mas o sentimento ficou. Ficou no gesto que marcou, na conversa que salvou, no apoio que veio sem a gente pedir. Ficou na memória do olhar que dizia “não desiste”. E olha, quando a gente reencontra esse tipo de amizade, é como se o mundo ficasse mais leve. Porque a gente se lembra que não tá sozinho.

Tem amigo que é tipo farol: mesmo distante, mesmo quieto, segue ali, iluminando de longe. Basta a gente olhar pro horizonte certo.

E é por isso que eu digo, com toda certeza do coração: amizade de verdade não se perde. Ela pode adormecer, mas não morre. Pode silenciar, mas não se desfaz.

> “Amizade de alma não tem prazo de validade — ela apenas descansa na memória até que a vida ache o momento certo de reencontrar.

Onde o suor vira elo e o cansaço vira cuidado

Onde o suor vira elo e o cansaço vira cuidado

Titus, o som do coração

Tem amizades que a gente não procura, não escolhe, nem espera. Elas surgem no meio do caos, na hora da correria, entre um chamado urgente e um café apressado. São laços que nascem do trabalho, mas vão muito além da função. São pessoas que chegam como colegas, e aos poucos, sem que a gente perceba, passam a habitar um lugar sagrado: o da confiança.

No trabalho social, onde a dor humana é matéria-prima, onde cada história que chega carrega feridas abertas, é impossível seguir sozinho. E é ali, no meio dessa dureza toda, que a amizade floresce. Porque quem divide o peso com você, aprende a ouvir seu silêncio. Quem caminha ao seu lado nas ruas, nas abordagens, nos dias de sol escaldante ou de chuva fina e tristeza densa, começa a entender seus limites, suas dobras, seus abismos.

Eu vi amizade nascer no olhar que diz “hoje não tá fácil, mas tamo junto”. Vi em mãos que se estendem pra ajudar no acolhimento de quem ninguém quer olhar. Vi no companheirismo de quem segura a barra quando a gente sente vontade de desistir.

Tem amigo de trabalho que não conhece sua infância, não sabe o nome do seu primeiro amor, mas sabe quando você tá prestes a desabar. Sabe pelo tom da voz, pelo jeito de fechar o fichário, pelo modo como respira fundo antes de entrar numa reunião. E é aí que mora a mágica: esse tipo de amizade não precisa de muito. Precisa só de presença, de parceria real.

É por isso que eu sempre digo: os vínculos mais profundos não nascem nos momentos fáceis. Eles se forjam no calor da batalha. No improviso da abordagem, no plantão que parece eterno, na reunião que termina em abraço, na escuta que acontece no intervalo, quando a alma transborda.

A amizade que o trabalho constrói é uma ponte. E não é qualquer ponte: é daquelas firmes, que atravessam dias difíceis, que seguram o peso do outro sem medo de rachar. É aquela pessoa que você olha e pensa: “se ela tá aqui, eu também fico”.

E mesmo quando os caminhos se separam — quando um muda de setor, de cidade, de vida — o elo fica. Porque o que foi construído com verdade não se perde. Fica gravado em olhares que se reconhecem, em memórias que aquecem o peito nos dias mais nublados.

Às vezes, são essas amizades que seguram a gente no ofício. Que lembram o porquê começamos. Que devolvem sentido quando tudo parece automático.Oi

> “Algumas amizades são como o trabalho que as gerou: exigem entrega, constroem confiança e sustentam a alma quando o corpo quer parar.”

Lá onde o tempo ainda brinca de pique-esconde

Lá onde o tempo ainda brinca de pique-esconde

Titus, o som do coração

Tem lembrança que a gente não guarda… ela é que insiste em morar na gente. Fica ali, sentada num canto qualquer da alma, esperando um cheiro, uma música, um vento mais ameno pra acordar. É assim que sinto quando me lembro daquelas amizades de infância. Não eram apenas amigos — eram cúmplices de um mundo inventado, de uma vida que a gente vivia com o corpo sujo de terra e o coração limpo de qualquer medo.

Lá onde o tempo ainda brinca de pique-esconde, é onde vive essa parte de mim. Era ali, em ruas sem asfalto e quintais sem cerca, que eu descobria que o melhor da vida não custava nada: um pedaço de pão com açúcar, uma bola feita de meia, um segredo sussurrado debaixo da goiabeira. E tinha riso. Um riso solto, fácil, que nem precisava de motivo. Bastava estar junto.

Tinha um amigo que dizia que meu coração era diferente. Que eu prestava atenção nas coisas que os outros ignoravam. E talvez ele estivesse certo. Talvez por isso eu nunca tenha esquecido do cheiro do barro molhado depois da chuva, da caligrafia tremida do primeiro bilhete passado na escola, ou da mão estendida pra me levantar quando eu caía da bicicleta.

A amizade naquela época não pedia nada. Não tinha obrigação, nem cobrança. Era presença. Era barulho e silêncio. Era correria e descanso. A gente era feliz e nem sabia que aquilo era felicidade. Só sentia.

Hoje, tanta coisa mudou. A gente se perdeu de vista, cada um tomou um rumo. Uns viraram pais, outros sumiram, e alguns — esses que mais doem — foram embora da vida sem dizer adeus. Mas dentro de mim, eles continuam aqui. Como vozes que ecoam baixinho, como rostos que aparecem em sonhos sem hora marcada.

Se eu fechar os olhos agora, ainda consigo ouvir o estalo do chinelo batendo na calçada, o grito da mãe chamando pra dentro, e o combinado de “amanhã a gente brinca de novo”. E mesmo que o amanhã tenha virado um hoje cheio de contas, responsabilidades e saudades, eu ainda carrego esses amigos como sementes que me ensinaram a ser quem sou.

Porque amizade de infância é isso: uma parte da gente que cresceu fora do corpo, mas dentro da alma.

 "Algumas amizades não moram no passado — elas apenas descansam na memória, esperando um sorriso pra acordar."

quinta-feira, 15 de maio de 2025

A Lenda do Homem que Plantava Silêncios


(Titus, o som do coração)

Dizem que, há muito tempo, numa vila escondida entre colinas, vivia um homem chamado Elói. Era um sujeito simples, calado, quase invisível no vai e vem do cotidiano. Enquanto todos falavam alto, riam ou reclamavam da vida, Elói andava devagar pelas trilhas de terra, carregando uma pequena bolsa de couro e um olhar que atravessava as paisagens.

Ninguém sabia ao certo de onde ele vinha, nem o que fazia. Mas havia algo de diferente em seus passos — como se caminhasse em sintonia com uma música que os outros não ouviam.
E foi assim que começou a lenda.

Conta-se que Elói não falava porque suas palavras tinham peso demais. Ele ouvira, ainda menino, que o mundo andava barulhento porque os homens haviam esquecido o valor do silêncio. Desde então, decidiu guardá-lo, cuidar dele, e — mais do que isso — plantá-lo.

Sim, plantá-lo.

A cada passo, Elói escolhia um lugar de dor, uma esquina de tristeza, um campo onde a terra parecia cansada, e ali... semearia o silêncio. Não com palavras, mas com presença. Ficava em silêncio por horas, dias até, sentado, respirando junto com o tempo, como quem conversa com o vento e espera a resposta da terra.

As pessoas achavam estranho, claro. Diziam que era doido. Mas com o tempo, algo começou a mudar.

Nos lugares por onde Elói passava, as pessoas choravam menos. Dormiam melhor. Sonhavam mais. Crianças brincavam onde antes havia brigas, e os velhos sorriam de novo, sem motivo. Ninguém sabia explicar, mas onde ele ficava em silêncio, nascia alguma paz que não cabia em palavras.

Elói não queria fama. Não queria gratidão. Só caminhava.

Certa noite, ele subiu até a colina mais alta do vilarejo, onde o céu se abria em uma vastidão sem fim. Ali, a noite era tão escura que o mundo parecia suspenso.
E então ela apareceu: a Via Láctea.

Não como a conhecemos nos livros ou nas fotos, mas como um rio vivo, intenso, espesso, serpenteando o céu. Suas águas de luz escorriam entre as constelações e, naquela noite especial, parecia descer até tocar a alma da terra. Era tão real que dava a impressão de que bastava esticar os dedos e sentir a correnteza.

Elói olhou para cima e sorriu pela primeira vez em muito tempo. Não era um sorriso qualquer — era um adeus e um reencontro. O silêncio ao redor era tão denso que se podia ouvir o próprio coração pulsando junto com as estrelas.

A Via Láctea, vibrante, parecia chamá-lo. Não para longe, mas para dentro. Dentro de si. Dentro do mundo. Dentro de tudo o que ainda precisava ser curado.

E então ele parou. Respirou fundo. E plantou ali, sob o rio de estrelas, seu último silêncio.

Não cavou a terra. Não fez nenhum gesto. Apenas se entregou à noite como quem devolve à vida tudo o que colheu.
No dia seguinte, ele já não estava.

Mas no lugar onde Elói parou, nasceu uma árvore. Uma árvore diferente de tudo o que se conhecia. Seus galhos pareciam tocar o céu, e à noite, quando a Via Láctea brilhava alto, sua copa parecia dançar com o próprio universo. Era como se ela respirasse junto com o cosmos.

Quem deita sob essa árvore jura sentir o tempo desacelerar. Dizem que, em noites sem lua, a Via Láctea se curva até ela — como se fosse uma ponte de luz, conectando o invisível ao palpável.

E aqueles que ainda ouvem demais o mundo, que carregam dores que não sabem nomear, encontram ali o que Elói deixou: um silêncio vivo, cheio de significado, onde é possível finalmente ouvir o que o mundo sempre quis dizer — mas nunca soube como.

Convite especial

͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­ ͏ ‌     ­
 ͏  ͏  ͏  ͏ ͏  ͏  ͏  ͏ ͏  ͏  ͏  ͏ ͏  ͏  ͏  ͏ ͏  ͏  ͏  ͏ ͏  ͏  ͏  ͏

aparecidoluis@gmail.com

"Convite especial: Conheça o Crônicas do Dia-a-Dia!"



Olá, tudo bem? Quero te convidar para conhecer o meu blog, onde compartilho crônicas do dia a dia com histórias envolventes e reflexões sobre a vida."

"Se você gosta de boas histórias e quer receber novidades diretamente no seu e-mail, clique no botão abaixo para conferir!"

"Espero te ver por lá!
Abraço,
Cido Luis – Crônicas do Dia-a-Dia"


quarta-feira, 14 de maio de 2025

A Voz do Penhasco

A Voz do Penhasco

(Titus, o som do coração)

Em uma vila esquecida pelo tempo, onde as pedras falavam mais que as pessoas e o vento era mais confiável que qualquer promessa, havia um penhasco alto, escuro e solitário. Chamavam-no de Ouvinte Eterno.
Não era por acaso.

Diziam os anciãos — de olhos fundos e memórias cheias — que aquele lugar guardava um dom raro: devolver a quem ousasse gritar de lá o som exato de sua dor, sua verdade, sua essência.
Mas não de imediato.
Não como um eco.
O penhasco tinha sua própria lógica:

 “Primeiro ele escuta. Depois ele pensa. Só então, responde.”



E às vezes, a resposta vinha só anos depois.

As pessoas pararam de ir. Algumas diziam que era lenda. Outras, que era loucura gritar para as pedras. Mas Noel, um homem feito de dúvidas e cansaço, resolveu subir.
Ele não buscava respostas. Buscava um fim para o silêncio que o consumia por dentro.

Carregava o peso de ter deixado muitos sonhos pelo caminho. Amor, arte, tempo com os filhos, o ofício que amava — tudo trocado por certezas que não o preencheram. O rosto endurecido não combinava mais com o menino que fora. E era isso que doía mais: o sumiço do menino.

Chegou ao topo.
O vento soprou tão forte que parecia querer impedir sua fala. Mas ele gritou. Gritou como quem rasga a alma:
— “EU AINDA ESTOU AQUI?”

O som sumiu entre os vales. Noel esperou. Um dia. Dois. Três. Nada.

Voltou pra vila em silêncio. E viveu assim.
Cuidava da horta, da filha, do gato velho. Mas, por dentro, algo se abriu naquele grito.
Começou a escrever cartas que nunca enviava, riu de novo de piadas ruins, e às vezes dançava sozinho na cozinha, ouvindo músicas antigas.
Sem perceber, o som começou a voltar — de dentro pra fora.

Cinco anos depois, numa manhã de céu limpo, ele acordou com uma voz dentro do peito. Não era alucinação. Não era lembrança. Era o penhasco.

Calma. Profunda. Familiar.

 “Você nunca deixou de estar.
Só estava se ouvindo de muito longe.
Agora… você voltou a escutar.”



Noel chorou. Chorou com aquele tipo de choro que limpa, como chuva que lava telhados antigos.

E, naquele dia, decidiu subir o penhasco de novo. Não para gritar. Mas para agradecer.

Deixou lá uma pedra com seu nome e uma frase:
“Quem ouve o penhasco, encontra a si mesmo.”

Dizem que, desde então, novos viajantes começaram a subir.
Alguns gritam.
Outros apenas se sentam.
Mas todos, em algum momento, ouvem a mesma pergunta ecoar do fundo de suas almas:

 “Você ainda está aí?”



E quando respondem com sinceridade… o penhasco sorri.
Não com som, mas com vento, com luz, com uma paz que não se explica — só se sente.

O Espelho do Lago Inverso

O Espelho do Lago Inverso

(Titus, o som do coração)

Há muito tempo, num lugar onde o tempo caminha devagar e a natureza ainda sussurra segredos antigos, existia um lago escondido entre montanhas cobertas de névoa. Não era um lago comum. Suas águas não refletiam o céu, nem as árvores, nem o rosto de quem se debruçava sobre ele.
Diziam os mais antigos:

> “Esse lago não mostra o que você é. Ele mostra o que você poderia ter sido.”



Por isso, o chamavam de Lago Inverso — porque nele, tudo se via de dentro pra fora.

Poucos ousavam subir até lá. Aqueles que iam sabiam que não era apenas uma jornada por trilhas íngremes, mas um mergulho no que o coração guarda em silêncio. E foi lá que certa vez chegou Sirena, uma mulher de cabelos prateados e olhos cheios de passado.

Sirena era conhecida por sua sabedoria, sua calma e sua força. Havia ajudado a criar filhos que não eram seus, organizado festas que curavam tristezas, segurado mãos que tremiam de medo e enterrado os sonhos que um dia tivera para si.
Vivia sorrindo… mas à noite, quando as estrelas sussurravam verdades, sentia um vazio sem nome.

Ao chegar à beira do lago, ajoelhou-se. O vento acariciou seu rosto como se a reconhecesse. As águas, então, começaram a se mover devagar… até formarem uma imagem.

Sirena viu-se jovem, de pés descalços e cabelos ao vento, caminhando por cidades distantes. Estava rindo com desconhecidos, escrevendo poesias em pedaços de papel que deixava ao acaso nos bancos das praças. Dançava com um homem de olhos gentis sob uma chuva que parecia cair só sobre eles. Era uma versão dela que nunca existiu… mas que habitava cada suspiro do que poderia ter sido.

Ela chorou. Chorou com a alma. Não por arrependimento, mas por saudade de um tempo que nunca viveu.
Chorou por ter sido tão forte, tão boa, tão necessária aos outros — a ponto de esquecer-se de si.

Quando sua lágrima caiu no lago, a imagem desapareceu.
No lugar dela, formaram-se palavras. Não ditas por ninguém, mas sentidas no peito, como batidas do próprio coração:

 “Toda escolha é um renascimento.
Mas cada renúncia é um luto silencioso.
Não se vive sem deixar para trás pedaços do que se poderia ter sido.
E tudo aquilo que você não viveu… ainda mora em você.”



Sirena ficou ali por horas. Depois se levantou com um novo peso — não de arrependimento, mas de aceitação.
Ela entendeu, enfim, que sua vida foi feita de amor, mesmo quando foi ausência.
E que a mulher que ela viu no lago… não era uma vida perdida.
Era a outra face do seu amor ao mundo.

Dizem que Sirena voltou diferente. Continuou ajudando, sorrindo, acolhendo. Mas agora, vez ou outra, dançava sozinha sob a chuva.
E escrevia bilhetes poéticos que deixava nos bancos da praça, como se, no fundo, a jovem do lago tivesse voltado para morar nela.

Quem se aproxima do Lago Inverso hoje, em dias muito claros, ainda pode ouvir uma canção suave vindo da névoa. É a alma de Sirena, lembrando aos corações cansados que:

 “Nem tudo que não vivemos se perde.
Às vezes, só espera por um gesto, uma dança, um bilhete…
para florescer no tempo certo.”

A Ponte dos Dois Ventos

A Ponte dos Dois Ventos

(Titus, o som do coração)

Muito antes do tempo ser contado em calendários, existia um caminho oculto entre dois vales: um fértil e conhecido, o outro misterioso e cheio de luzes que mudavam de cor conforme o sentimento de quem olhava.

Entre esses vales, erguia-se a Ponte dos Dois Ventos — uma passagem feita não de pedra ou madeira, mas de brisa e sussurros. Atravessá-la era possível apenas uma vez. E quem o fizesse teria de deixar para trás algo que não se podia carregar nos braços: um afeto, uma certeza, uma parte de si.

A ponte era vigiada por dois ventos antigos e sábios:
O Vento do Norte, que soprava promessas — falava dos sonhos, dos caminhos ainda não trilhados, da liberdade que assovia nas montanhas.
E o Vento do Sul, que carregava memórias — cheiros da infância, risos antigos, o toque de mãos que já não estão.

Certo dia, um homem chamado Taren, de alma inquieta e olhos cansados, chegou à beira da ponte. Trazia no bolso um punhado de terra da sua aldeia, e no peito um nó que não sabia desfazer.

Ali, diante da ponte, o mundo silenciou.
— “O que você busca?” — soprou o Vento do Norte.
— “O que você teme perder?” — sussurrou o Vento do Sul.

Taren não respondeu. Apenas fechou os olhos e sentiu o peso da decisão. À sua frente, o desconhecido. Atrás de si, tudo o que era familiar. Entendeu então que escolher era também morrer um pouco. Mas viver sem escolher… era morrer por inteiro.

Deu o primeiro passo. E a ponte o recebeu.
Ao atravessar, sentiu-se mais leve. Mas não porque estava livre. Era porque algo havia ficado para trás: um amor antigo, uma segurança cômoda, uma identidade que já não lhe cabia.

Nunca mais voltou.

E dizem os mais sensíveis que, nas noites em que os ventos dançam sobre as colinas, pode-se ouvir o som de Taren conversando com os dois ventos — grato, embora marcado.
Porque o preço da escolha verdadeira não é o que se perde. É o que se ganha… de si mesmo

segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Tempo Não Apaga

 Dizem que o tempo cura tudo.
Mas eu aprendi que ele não apaga tudo.
O tempo reorganiza. Empilha os sentimentos como se fosse uma velha estante de madeira, meio torta, cheia de lembranças encaixadas em cada prateleira.
Mas não joga fora.
Ele até tenta... mas o que foi vivido com o coração, o tempo respeita.

Às vezes, no meio da correria do dia a dia, me pego lembrando de coisas pequenas.
Um domingo na infância. Um banco de praça em Goiânia. O cheiro de café coado na casa da minha mãe.
Aquele olhar de despedida, uma última conversa que ficou curta demais, o nome de alguém que a gente jurava que ia lembrar pra sempre — e lembra.
Lembra sim.

Porque tem histórias que grudam na gente. E nem é porque foram extraordinárias… é porque foram sinceras.
Eu carrego comigo rostos que se perderam no tempo, mas continuam vivos aqui dentro.
Carrego também palavras que escutei nas ruas, no Centro Pop, nos CRAS da vida…
Frases que vinham carregadas de dor, esperança, fé.
E essas coisas o tempo não leva. Ele deixa.
Porque, no fundo, a vida não é feita dos grandes acontecimentos. Ela é feita dos momentos que nos atravessam, nos moldam, nos silenciam.
Uma conversa sob a sombra de uma árvore. Um gesto inesperado. Um reencontro. Uma perda.
O tempo pode tentar esconder isso tudo num canto escuro da mente…
Mas o coração tem luz própria.
E ilumina tudo outra vez.

Então, se hoje você sentiu saudade…
Não lute contra.
A saudade também é uma forma de permanência.
A lembrança é sinal de que algo valeu a pena.
E se o tempo não apagou… é porque ainda te pertence.
Guarde com carinho. E siga.
Porque o tempo passa, sim. Mas o que importa… isso, ele deixa.

Titus, o som do coração

segunda-feira, 28 de abril de 2025

As Coisas Que Deixamos Pelo Caminho

Deixamos um pedaço da alma no banco esquecido da praça,
onde um dia, entre risos e promessas, acreditamos que o mundo era nosso.

Deixamos olhares soltos nas esquinas,
suspiros que se perderam antes de virar palavras,
e beijos que morreram nos lábios,
timidamente recusados pela coragem que nunca chegou.

Deixamos cartas que nunca enviamos,
presentes que ficaram embrulhados no fundo do armário,
e histórias que não tiveram final, mas ainda moram nas entrelinhas dos nossos silêncios.

Deixamos o cheiro do café que a pressa esfriou,
as tardes de outono que não voltaram,
e as canções que um dia juramos nunca esquecer — mas esquecemos.

Deixamos mãos estendidas que não tivemos força pra segurar,
e portas abertas que o orgulho, impiedoso, bateu com força.

Às vezes, deixamos sem saber.
Outras vezes, deixamos querendo.
Mas sempre deixamos.

Porque crescer é carregar partidas no bolso da alma,
é aprender a caminhar com espaços vazios dentro da gente.

E a vida, ah, a vida...
Segue como um velho trem rangendo nos trilhos do tempo,
levando a gente pra longe do que foi,
e ao mesmo tempo, carregando no peito o que jamais deixamos de ser.

As coisas que deixamos não são derrotas.
São sementes jogadas no chão da memória.
Algumas florescem em lembranças doces.
Outras se perdem na poeira das horas.
Mas todas, todas... são marcas vivas do que ousamos viver.

E seguimos...
Com o coração remendado pelas ausências,
mas os olhos ainda brilhando,
porque onde houve amor, sempre haverá caminho.
(por Titus, o som do coração)

quarta-feira, 23 de abril de 2025

A DOR TEM SOTAQUE

Tem dor que chega primeiro.
Antes da pessoa abrir a boca, ela já entrou na sala.
Tá no jeito do corpo curvado, no olhar baixo, na mão inquieta.
Tem dor que grita.
Tem dor que finge ser valentia.
Tem dor que se fantasia de raiva só pra não se mostrar frágil.

E tem dor que sorri.
Ah, essa é a que mais me dói.
Porque ela vem disfarçada de "tá tudo bem", mas por dentro carrega um furacão.

A dor tem sotaque, sim.
Ela muda de tom conforme a história de quem sente.
Tem dor que nasceu em berço duro, dor que veio da infância desbotada, dor que foi crescendo junto com os anos, calada.
Ela se expressa no silêncio, na ausência, no excesso.
Ela grita nas entrelinhas, no exagero, na resposta atravessada.

Uma vez, em Goiânia, conheci um homem que parecia um leão.
Falava alto, batia com força as palavras, como se quisesse derrubar paredes.
Dizia que não precisava de ajuda, que estava ali à força, que era tudo "palhaçada".
Mas a verdade, Cido, é que ele só queria alguém que não desistisse dele.
Alguém que não se assustasse com o rugido.
Quando a gente teve paciência de ficar, de ouvir, de olhar nos olhos…
o leão virou menino.

Era dor antiga ali.
Dor de abandono, de solidão, de um mundo que não foi justo.
Ele só queria ser visto, não julgado.
Só queria ser escutado sem pressa, sem pressa nenhuma.

E teve aquela moça…
Tão doce. Tão gentil. Sempre sorrindo.
Mas era o sorriso mais triste que já vi.
Porque por trás dele, morava um grito.
Aquele tipo de dor que aprendeu a não incomodar.
A dor educada.
A dor que se acostumou a não ser prioridade pra ninguém.

A dor tem sotaque.
Às vezes ela fala rápido, às vezes devagar.
Tem dor que se disfarça de força.
Tem dor que se veste de indiferença.

E quem vive entre gente — como eu e você, Cido —
precisa aprender a escutar mais do que palavras.
Precisa ouvir os gestos, os silêncios, os cansaços.
Porque a dor se esconde em frases como "tá tudo certo", "já tô acostumado", "tem gente pior".
Ela se camufla pra sobreviver.

E aí a gente entende:
O bravo não é ruim, o calado não é desinteressado, o exagerado não é desequilibrado.
Eles só falam com sotaques diferentes da dor.

E a dor, Cido, pode estar em qualquer canto.
No morador de rua enrolado num cobertor,
na mulher de salto alto no ônibus das seis,
no menino que responde atravessado,
no velho que reclama de tudo.

Não tem dor menor.
Não tem dor que mereça menos escuta.

O que muda tudo é quando a gente para de tentar calar a dor dos outros e começa a escutá-la de verdade.
Porque, por trás de cada gesto estranho, de cada reação desproporcional, de cada “não precisa se preocupar”…

…existe um pedido escondido, quase mudo, mas que ecoa forte pra quem sabe ouvir:

“Me veja. Me ouça. Me acolha.”

Por Titus, o som do coração

terça-feira, 22 de abril de 2025

O que os olhos não dizem, o corpo grita

Era São Paulo. Mais de vinte e cinco anos atrás. A cidade já carregava nas veias aquele sangue acelerado, misturado com o pó dos ônibus e o cheiro de pastel na esquina. Eu morava numa pensão modesta ali perto da Consolação, e todos os dias cruzava a cidade num vai e vem sem muito glamour, mas cheio de encontros. Trabalhava, estudava, vivia — tudo ao mesmo tempo, como todo paulistano que se vira entre os sonhos e os boletos.

Naquele tempo, o centro ainda tinha sua dignidade de ferro e concreto, mesmo cansado. A Estação da Luz ainda parecia um cartão-postal esquecido no tempo, e a praça da Sé era um palco onde a vida improvisava em tempo real.

Foi ali, entre a Xavier de Toledo e a São João, que vi ele.
Não tinha nome. Pelo menos, não um que me dissesse naquele momento. Mas tinha um corpo que falava. E falava alto.

Era um fim de manhã típico — céu encoberto, cheiro de pão amanhecido no ar, gente pra todo lado. Mas ele, ele parecia fora do ritmo. Um passo atrás do mundo. Arrastava os pés como se cada um carregasse um ano de dor. Mão enfiada no bolso do moletom puído, o olhar colado nas pedras portuguesas do calçadão, como quem procura uma resposta no chão.

Ele não pedia nada. Não estendia a mão. Mas o corpo dele gritava.

E a gente, quando carrega o coração meio aberto — às vezes por vocação, às vezes por ferida — aprende a ouvir esse tipo de grito. Não vem com som. Vem com presença. Uma presença que esbarra na gente mesmo sem encostar.

Cheguei perto. Perguntei se queria um pão de queijo ali do boteco da esquina. Ele recusou. Disse que tava tudo bem. Mas não foi embora. E eu também não.

Ficamos.
Às vezes, o gesto mais revolucionário é ficar.

A conversa veio aos poucos, como chuva fina. Primeiro o nome do bairro onde nasceu. Depois a história da avó que criou ele. Aí veio o baque: a mãe internada, o pai ausente, a rua como única possibilidade. Perdera o emprego, a confiança, o rumo. E junto com tudo isso, perdeu também o olhar dos outros.

Disse:
"O pior não é passar fome. É não existir pra ninguém."

Aquilo me travou. Em plena São Paulo, onde milhões de passos se cruzam todos os dias, ele só queria ser visto. Não notado como estatística ou caso social. Mas visto. Como ser humano. Como alguém que ainda pulsa.

E, Cido, ali eu entendi que o corpo fala. Fala quando a palavra engasga. Fala no jeito de andar, de se encolher, de evitar o mundo. Fala no silêncio.

Depois disso, passei a caminhar mais devagar por São Paulo. A cidade ainda era um bicho corrido, mas eu aprendi a escutar seus sussurros. Vi o menino que vendia chiclete na Augusta olhando pro céu como quem esperava uma resposta. Vi a moça da barraca de cachorro-quente do Anhangabaú chorando sem som quando pensava que ninguém via. Vi o segurança da loja dormindo em pé, exausto de um turno dobrado.

Todos gritavam. Cada um à sua maneira.

Mas quem escuta?

A pressa é surda, Cido. E São Paulo é feita de pressa.

Mas eu tive esse privilégio. De parar. De ver. De ouvir um silêncio que dizia tudo.

E talvez, naquele dia, eu não tenha feito muito. Talvez só tenha sido um ponto de pausa numa trajetória de dor. Mas naquele instante, ele soube que existia. Que alguém o viu. Que ainda era possível estar no mundo sem ser só paisagem.

E você?
Já ouviu o silêncio de alguém hoje?

Titus, o som do coração

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Sou um Leitor de Silêncios

Sou um Leitor de Silêncios

Por Titus, o som do coração

Não, eu não adivinho cartas.
Não tenho poderes sobrenaturais.
E, definitivamente, não uso capa.
Mas, ao longo da vida, aprendi uma coisa rara:
a escutar o que não é dito.
A enxergar o que se esconde nas entrelinhas.
A perceber o que não salta aos olhos — mas que grita no silêncio.

Tem gente que entra num ambiente e diz tudo sem dizer nada.
O corpo já chega antes, com o peso do dia.
O olhar entrega o que a boca ainda vai negar.
E o silêncio… ah, o silêncio é cheio de palavras que ninguém ousou traduzir.

A vida me ensinou a notar essas sutilezas.
Não foi numa sala de aula.
Foi na rua.
No convívio com pessoas que já perderam quase tudo, menos a esperança de serem compreendidas.
Foi em conversas que duraram segundos, mas deixaram marcas.
Em olhares que me atravessaram como se quisessem gritar “me veja, por favor”.

Tem gente que pede um favor e entrega uma dor escondida.
Outros pedem um café, mas o que querem mesmo é companhia.
Tem quem se recuse a falar…
Mas o corpo fala por eles.
Fala através da postura, dos ombros curvados, da voz trêmula que tenta soar firme.

Aprendi, com o tempo, que as maiores dores não fazem escândalo.
Elas se sentam ao lado da gente com um sorriso cansado.
Elas se escondem atrás de frases prontas como “tá tudo bem”
ou de um “valeu” dito rápido, só pra encerrar logo a conversa.

E eu fui aprendendo a respeitar esse tempo.
A não invadir o espaço do outro.
A esperar o momento em que a pessoa se sinta segura pra se mostrar.

Ser alguém que lê silêncios não é sobre ser especial.
É sobre estar presente.
De verdade.
É sobre deixar o celular de lado e olhar nos olhos.
É sobre escutar sem pensar na resposta.
É sobre não tentar consertar nada.
É só estar ali, inteiro, disponível.

Tem algo de sagrado nesse tipo de presença.
Não porque transforma tudo num passe de mágica…
Mas porque permite que o outro se veja também.
Quando a gente é visto com respeito, com verdade, com interesse real… a gente começa a se enxergar melhor.

Já vi pessoas que estavam em pedaços se reconstruírem só porque alguém as viu sem julgamento.
Só porque alguém ouviu o que elas não conseguiram dizer.
E, pra mim, isso é quase um milagre.

E você sabe, Cido…
Milagres, no fundo, são feitos disso:
de gente que escolhe estar.
De gente que escolhe ficar.
De gente que escolhe ver.

Eu não sei de tudo.
Mas sei quando alguém está quase desistindo e precisa de uma âncora.
Sei quando o riso é só uma tentativa de se manter de pé.
E sei, também, quando o silêncio é um pedido de socorro — mas dito com vergonha.

Tem dores que não cabem nas palavras.
Tem histórias que a boca não consegue contar.
Mas os olhos... ah, os olhos contam tudo.

E aí, nesse instante, o mundo para.
A pressa vai embora.
E a gente simplesmente se escuta.
Um de cada vez.
Com tempo.
Com alma.

Se tem uma coisa que eu aprendi com o tempo, é isso:
a maior parte das pessoas só quer ser vista.
Só quer ser ouvida.
Só quer sentir que, mesmo em meio ao caos, ainda existe alguém ali.
De verdade.

Talvez esse seja o maior poder que a gente possa ter nos dias de hoje:
o poder da presença.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Carne de porco moída com taioba!

Boa noite!
Que tal uma refeição caseira cheia de sabor e nutrientes? Hoje, vou te mostrar como preparar taioba refogada com carne de porco moída, acompanhada de feijão roxo, arroz soltinho e uma salada refrescante de alface com tomate. Um prato completo e delicioso para o dia a dia!

✅ Receita fácil e nutritiva
✅ Combinação perfeita de sabores
✅ Ideal para uma refeição equilibrada

Assista, experimente e me conta o que achou nos comentários!

https://youtu.be/iQtZYhD_HGs?si=ERXA4c54-dlc3juI

#ReceitaFácil​ #ComidaCaseira​ #Taioba​ #CarneDePorco​ #FeijãoRoxo​ #ArrozSoltinho​ #ComidaSaudável​ #CulináriaBrasileira​ #PratoCompleto​

O Presente é a Margem Onde os Pés Tocam o Chão

O Presente é a Margem Onde os Pés Tocam o Chão Titus, o som do coração Tem momentos em que a gente para. Ou porque a vida manda parar, ou po...