“A Ponte dos Dois Ventos”
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(Titus, o som do coração)
Dizem os antigos que havia, entre dois vales esquecidos pelo tempo, uma ponte feita de vento. Só podia ser atravessada uma vez. E cada pessoa que passava por ela, deixava algo pra trás — não algo que carregava nas mãos, mas algo que morava no peito.
Conta-se que a ponte foi construída pelos deuses da escolha: o Vento do Norte, que sussurra promessas, e o Vento do Sul, que traz memórias.
Um dia, um homem chamado Taren chegou à ponte com os bolsos cheios de sonhos e os olhos pesados de dúvidas. De um lado, a vida que conhecia: sua vila, sua família, a rotina que o fazia invisível. Do outro, uma terra que ele só havia visto nos mapas dos corajosos: possibilidades, riscos, liberdade.
Os ventos sopram forte quando alguém hesita. E ali, entre o passo e o medo, Taren ouviu a ponte falar — não com palavras, mas com um silêncio que sacode o coração.
“Você pode atravessar, Taren,” disse o Vento do Norte, “mas deixará para trás o que lhe é confortável.”
“E se ficar,” sussurrou o Vento do Sul, “jamais conhecerá o que poderia ter sido.”
Taren escolheu atravessar.
E a ponte se desfez atrás de seus pés, como prometido.
Nunca mais voltou. Nunca mais foi o mesmo.
Dizem que ele encontrou o que buscava, mas também aprendeu o valor do que perdeu. E que todas as noites, quando o céu ficava quieto, ele sentava sob uma árvore solitária e conversava com os ventos que haviam mudado sua vida.
Porque toda escolha verdadeira, dizem os sábios, tem um preço.
E todo preço pago com coragem se transforma em canção dentro da alma.
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