Olá!
Continuando, fui mandado a prestar serviço no Cadastro Único de Benefícios Sociais, para começo de conversa não sou nada fã de Banco de Dados, talvez por ter experiências negativas relacionadas a este tipo de informação. Por diversas vezes havia a troca de um software que não migrava os dados do programa anterior, o que me fazia ter de digitar tudo novamente, outras vezes o banco de dados todo alimentado não servia para nada, nenhuma informação contida nele era utilizada e ainda outras vezes o resultado final, ou seja planilhas, gráficos ou até mesmo declarações e atestados não eram reconhecidos pelos órgão responsáveis pela validação dos mesmos e isso era realmente desestimulador.
Bem, esse cadastro tem a finalidade de identificar famílias em risco social, crianças, adolescentes, adultos, que se encontram em extrema pobreza, para direcioná-los para os benefícios a que têm direito, inclusive servindo de base para a criação de politicas publicas para o enfrentamento das necessidades emergentes e resgate de famílias que vivem nos conhecidos bolsões de pobreza no município. No papel, como disse anteriormente é muito bonito, mas na prática nem tudo funciona assim, pois existem diversos fatores a serem levados em conta, sendo eles, vontade política, cumprimento das metas estabelecidas pelo programa, uma equipe realmente imbuída de vontade de contribuir com a melhoria da vida dessas famílias, e o principal, que ao meu ver torna o trabalho bastante desgastante, a vontade que o ser humano possui de criar urgências pessoais disfarçando a realidade ou escondendo a verdade para conseguir os seus intentos, e quando tem dinheiro no meio parece que a coisa ainda fica pior.
Pois bem, fui inserido na equipe para aprender todo o trabalho, desde a entrevista, passando pelas leis e regras que regem cada benefício, identificação das necessidades das famílias, acolhida, identificação de violência familiar, e também encontrar as que não possuíam o perfil para os diversos programas do Governo Federal e orientá-las sobre os prejuízos que essa atitude estava trazendo para a sua evolução pessoal e o impedimento de inclusão de novas famílias realmente necessitadas as quais os programas se destinavam.
Tinha dias que eu chegava a ter dores de cabeça, tamanha era a informação que eu precisava assimilar, nesta época tive dois grandes professores, Jane e Antonio José, eles me ensinaram tudo o que sabiam, não deixaram nada para trás, toda a historia da evolução do sistema, todos os contatos nas esferas Federal, Estadual e Municipal, as familias que se encontravam em fator de risco, o atendimento, hardware e software, etc. Fui aprendendo todos os procedimentos legais, o que eu podia ou não fazer, quais eram as minhas atribuições, a forma de interagir com os entrevistados, obsevração de linguagem corporal, identificação de padrões que evidenciariam uma possível fraude nas respostas, ou até mesmo se as mulheres e/ou crianças eram vítimas de violência doméstica.
Dessas últimas me dou o direito de nada dizer, pois são seres tristemente egoístas, que não se importam com o bem estar de outras pessoas, que não medem esforços para conseguir o seu intento em detrimento do sofrimento alheio. Devo esclarecer que esse tipo de pessoa é normalmente aquela que se diz indignada quando sabe de um roubo, um furto, que grita a plenos pulmões que o nosso país não tem solução, pois seus dirigentes nas diversas esferas são, nas sua grande parte, corruptos, mas quando é para si, as regras mudam são capazes usar uma frase que me irrita profundamente "QUE QUE É ISSO, TAMBÉM SOU FILHO DE DEUS!". Nesse momento tudo é permitido, colocou o nome de Deus já passou a merecer, não é roubo, nem furto e muito menos corrupção.
Bem mas o importante é que conheci muita gente honesta que ao melhorarem um pouco suas vidas nos procuravam para relatar a melhora e assim dizer que já não precisavam mais desse beneficio, outras vezes vi um familia inteira sem ter o que comer e com essa pequena ajuda conseguiram sobreviver, e de barriga cheia procuraram emprego, e com o emprego melhoraram de vida. Também, durante esses anos de meu aprendizado diário, foram ofertados vários cursos profissionalizantes, onde o Pai ou a Mãe iniciaram uma nova carreira, dando assim um novo destino aos filhos.
Todos os dias é um novo desafio, um novo aprendizado, já passei muita raiva com gente falsa-gananciosa, mas tive momentos de muita alegria e emoção ao ver pessoas honestas e integras melhorarem a olhos vistos, eu também me sinto vitorioso junto com elas, muitos tornaram-se meus amigos, sempre que podem conversam, perguntam, ensinam e principalmente respeitam o meu trabalho junto com a equipe a qual eu pertenço.
Os anos se passaram as familias evoluíram, muitas já não fazem parte dos programas do governo, foram regatadas, orientaadas e conseguem caminhar com as própias pernas, outras continuam no mesmo patamar, mas isso é uma escolha pessoal, é como um aluno em sala de aula, alguns se destacam mais que outros, sendo que as oportunidades são as mesmas, há ainda aqueles que se destacam numa matéria e em outra não, e precisamos ter paciência suficiente para sanar-ĺhes as dúvidas, orientando-os sobre um futuro melhor.
Nesse proceso eu também evoluí, foram onze anos, desde o dia que cheguei nessa cidade que me acolheu tão bem, fiz novos amigos, conheci pessoas interessantes, tive alegrias, tristezas, frustrações e realizações pessoais, é aqui que crio meus filhos, minha familia é toda daqui e;ou desta região, meus antepassados ajudaram a construir parte da história dessa cidade, e por isso, por tudo o que resumi durante esses dias, em respeito aos amigos e amigas, em respeito a todos os que conheci e que me ensinaram tanto, eu posso dizer:
- SOU PATAFUFO, E DAÍ, VAI ENCARAR?
Ser Patafufo é ser Paraminense, é não negar suas raízes, se orgulhar do seu presente e ter esperança num futuro melhor.
Muito obrigado a todos.
Um grande abraço.
Titus●•ツ
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
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"Quero ser diferente, eu sou, e se não for, me farei."
Fotos encontradas no site:
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