
Olá!
Hoje foi um dia muito iluminado para mim, estou fazendo visitas à residências com pessoas acamadas. É muito difícil ver pessoas numa situação tão vulnerável passando por dificuldades e necessidades básicas.
Conversando com alguns amigos acabei contando um fato que me ocorreu hoje e tocou a minha alma.
Cheguei em uma casa muito antiga, ela deve ter uns 100 anos, pequena, bem pequena, parece ser feita de adobe, sem lage, de piso de vermelhão, mas mesmo em sua simplicidade não vi uma poeira, uma sujeira. Os móveis aparentam ser antigos, mas muito bem cuidados, sem um rasgado, todas as roupas muito limpas. Havia uma senhora acamada, limpa, bem cuidada.
Fui recebido por um casal (vale aqui corrigir algo que eu disse aos meus amigos, não era marido e mulher e sim irmãos) que são os cuidadores de sua mãe bastante idosa e acamada e bem cuidada.
Começamos a conversa, eles me contaram suas preocupações, suas atribulações, seus desejos e sonhos. Coisas simples, conversa de pessoas simples.
Num dado momento o o filho, mais velho que eu, me perguntou:
- O senhor é filho de quem?
- Ah, o senhor não deve conhecer a minha família. Respondi.
- Quem é seu pai?_ Insistiu.
- Meu pai era jogador de futebol profissional, respondi. Ele foi bicampeão pelo time do Paraense quando ele era da primeira divisão.
-Qual o nome dele?_ continuou.
- Nen, respondi.
Ele arregalou os olhos e disparou:
- Você é filho do Nen?
- Sim, respondi admirado.
- Nossa Senhora!_ disse. O goleiro? Meu Deus eu fui gandula dele! Eu era fã de seu pai! Eu torço pro Cruzeiro por causa do seu pai! Eu me tornei desportista por causa do seu pai! Ele era pequeno mas no gol era um gigante, não passava nenhuma bola, nunca foi substituído. Nossa, eu tinha muita vontade de chegar perto dele, mas eu era um garoto e ficava com vergonha!
Fiquei surpreso e emocionado. Desse ponto em diante ele começou a conversar mais alegremente, de repente me disse:
- Oh! Vou te dizer uma coisa, desde que minha mãe caiu de cama, eu não sei o que é felicidade! Os vizinhos deixaram de brincar comigo, e olha que eles zoavam muito, porque são todos atleticanos. Acho que é por respeito à minha mãe doente. Parei de torcer, parei de brincar, de sorrir, a vida ficou muito difícil sabe?
Mas depois que você (graças a Deus deixei de ser senhor, hehehe) falou do seu pai voltei a sentir aquela alegria de criança, obrigado viu.
Ouvindo isso me levantei e lhe pedi pra me dar um abraço. Quando me abraçou começou a chorar e agradecer. Dei-lhe um beijo no rosto, que foi retribuído, e ele começou a chorar tão doloridamente. Ele me abraçou mais forte ainda, parecia que o choro vinha do fundo d'alma. Quando olhei sua irmão também chorava. Isso me tocou profundamente.
Quando ele parou de chorar, me agradeceu, sua irmã também me abraçou, chorando ainda, me beijou o rosto e me disse:
- Olha, muito obrigado, que Deus o abençoe por ter vindo aqui, faz tempo que não o vejo manifestando qualquer sentimento, nossa vida voltou a ter cor. Que Nossa Senhora o abençoe muito, que ela lhe cubra com seu manto.
Agradeci. Me despedi, e ao entra no carro ainda fiquei observando aquele casal, que eu não conhecia até aquele momento mas que me proporcionaram um sentimento nunca experimentado.
Como um abraço e um beijo podem tirar uma pessoa, que você nunca conheceu, do inferno pessoal?
Temos que agradecer à Deus pelo que temos, e tentar compartilhar seu amor a todos os que encontramos.
Assumi esse trabalho pra tentar ajudar o próximo, mas percebi que eu é quem está sendo ajudado.
Um grande abraço a todos.
Titus●•ツ
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"A única maneira de descobrir os limites do possível está em aventurar-se um pouquinho pelos cenários do impossível".
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