Vim morar em Pará de Minas com minha família a onze anos. a decisão foi tomada em primeiro de julho de 2001, quando Ana Luisa, minha filha, completava um aninho de idade, fizemos festa, bolo, balões, convidamos amigos e familiares, foi muita alegria, desejávamos ter uma vida pacata, na época residia na cidade de São Paulo, e apesar de lá ser o centro do mundo, éramos conhecedores das dificuldades que encontraríamos para criá-la numa megalópole.
Depois de tomada a decisão no mês de setembro do mesmo ano trouxe minha mudança para cá, na época alugamos uma casa no Jardim das Piteiras, pois minha mãe já residia neste bairro tão agradável, onde hoje resido com meus filhos, logo que me instalei saí a procura de um emprego, tinha minhas despesas e uma filha pequena para criar, saí distribuindo currículos pela cidade, fui em várias empresas me apresentei, mas como não era conhecido ficou um pouco difícil o primeiro emprego na cidade.
Uma amiga, hoje no mundo espiritual, chamada Sandra vendo a minha determinação em trabalhar, me indicou para o seu amigo Marcelo, o então proprietário do Ginga's Bar, para fazer um free nos finais de semana como segurança, logo de cara ele me colocou para servir as mesas e vendo minha desenvoltura logo estava servindo no balcão junto com os gêmeos Alaesse e Alassir, garotos jovens, alegres e que me ensinaram muito sobre as bebidas típicas do local.
Como eu trabalhava apenas nos finais de semana, continuei no aguardo de ser chamado por uma empresa para assinar a minha carteira e ter um emprego fixo, isso não aconteceu e durante um bom tempo fui trabalhando no bar.
Minha prima Neusa Cristina havia levado meu currículo até uma empresa de limpeza urbana a CONSITA, na qual ela trabalhava como varredeira, o encarregado Joanilson mandou me chamar, e me lembro do nosso encontro no escritóriocomo se fosse ontem, ele me disse:
- Sua prima falou que você quer trabalhar, mas com o seu curriculo acho que você não vai aceitar!
- Qual é o trabalho? - perguntei.
- Coletor; respondeu, correr atrás de caminhão de lixo, fazer a rota jogando os sacos de lixo das residências no caminhão.
-Quando começo? - perguntei determinado.
- Amanhã às sete, chegue mais cedo para eu apresentar você para a turma.
E esse foi o meu primeiro emprego de carteira assina em Pará de Minas, na época muita gente não entendia o porque eu estava trabalhando ali, para falar a verdade nem eu, mas sempre confiante na frase "TUDO QUE DEUS FAZ É BOM!", continuei alegremente, sempre pensando "O que Deus tá querendo de mim?, vale lembrar que para deixar meu trabalho mais agradável, apesar do cheiro de lixo , e do cansaço do trabalho, eu rezava durante o caminho de casa para o local onde pegava serviço sempre oferecendo a Deus aquele dia, eu dizia:
- Meus Deus, que nesse dia todo o lixo que vamos recolher seja como se estivéssemos limpando a pobreza, a doença e os conflitos desta cidade que prontamente me acolheu.
Preciso ser sincero, fui muito bem recebido em muitos lares e bares, padarias e aviários da cidade, café quentinho, pão de queijo, frangos abatidos, cubu (bolo de fubá assado em folha de bananeira), que nos eram ofertados por pessoas que davam a importância ao nosso trabalho, mas em alguns lares, poucos na verdade, éramos tratados como resultado do próprio lixo. Uma vez me lembro que um de nós pediu um como com água, a moradora, depois de torcer a cara, trouxe o copo e não o aceitou de volta dizendo que estava contaminado e que a gente poderia jogá-lo fora, o pessoal já estava acostumado mas eu fiquei bastante chateado, não por nós, mas porque aquela pessoa não conseguir manifestar gratidão pelo seu dia-a-dia transformando-o em atos. Engraçado, agora me lembro que anos depois acabei por dar assistência religiosa naquele lar, que estava repleto de doença, pobreza e conflitos, tive a grata oportunidade de acompanhar aquela senhora até a sua passagem para o mundo espiritual, ela foi acometida por um câncer muito violento e ela não conseguiu suportar.
Bem, voltando àquela época, lá ia eu trabalhando, sempre brincando, cantando (sou uma eterna criança, hehehe) e correndo, aprendendo a amar cada vez mais essa cidade e valorizar a minha vida, durante meses trabalhei assim, até que apareceu uma oportunidade de trabalhar no escritório, e assim, após o devido treinamento em Belo Horizonte, passei a desempenhar um novo papel, as coisas foram mudando, a empresa saiu de Pará de Minas e me ofereceu uma nova cidade para trabalhar, mas eu não queria sair daqui então permaneci, havia um terreno da empresa que acabou por me deixar morar com minha família, livre aluguel, pagamentos de água e luz e ainda recebendo um salário.
Vale a pena dizer que fiz grandes e boas amizades com as equipes da CONSITA, desde o escritório central até as varredeiras, coletores e motoristas, até hoje nos encontramos e lembramos de muita história boa, hehehe.
Prestei o concurso da Prefeitura de Pará de Minas e passei em décimo segundo lugar, fui chamado logo de cara, fui trabalhar na escola Municipal Orosina Cecílio Mendonça, mas isso vou deixar para contar amanhã, pois a vida tem um fluxo interessante, tudo que ocorre conosco tem um sentido, um motivo que nós mesmos desconhecemos, quando chegar ao final dessa história de onze anos todos os leitores entenderâo o título que escolhi para este post.
Um grande abraço.
Até amanhã.
Titus●•ツ
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"Quero ser diferente, eu sou, e se não for, me farei."
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