sábado, 22 de fevereiro de 2014

Aprendemos até com a morte.

Olá!
Eu tive que realizar uma tarefa não muito agradável, a mãe de um amigo falecera e fui ao velório prestar minhas  condolências, o local estava cheio, a família é muito conhecida na cidade, eu o abracei, havia ensaiado algumas palavras de conforto, mas ao vê-lo, ao abraça-lo a única coisa que pude fazer foi manter-me em silêncio.
Foi um silêncio doloroso, um abraço apertado, segundos que pareceram horas, ele só me dizia, "muito obrigado, muito obrigado mesmo, obrigado". A cada obrigado meu coração chorava, eu me silenciei, talvez porque, apesar de saber que a morte é o único mal irreparável, e que todos nós, a cada dia, estamos nos aproximando desse momento inevitável, fica a dor da partida, mesmo sabendo que um dia nos reencotraremos noutro lugar, fica o amargo sabor da derrota, momentânea é certo, mas é uma derrota da nossa luta pela vida.
Como o velório estava cheio resolvi caminhar um pouco, muitos rostos conhecidos, muitas pessoas de minha convivência, mas aquele momento eu havia dedicado a prestar condolências e por isso me mantive mais afastado (talvez por ser como sou eu não me sinto muito sociável nesses momentos). 
Durante minha caminhada percebi que haviam mais dois corpos sendo velados em outras salas e resolvi visitá-los, não por curiosidade mas porque também estavam lá, a mesma dor que meu amigo passava, outras pessoas também a estavam experimentando.
Quando adentrei à primeira sala, vi que havia um jovem ao lado do caixão de um senhor já idoso, ele estava de pé, haviam poucas pessoas, talvez uma meia dúzia, bem diferente da sala que eu acabara de sair, me aproximei, calado, respeitoso, observei o corpo do senhor no caixão e ofereci minhas condolências ao jovem. De súbito ele me abraçou e começou a agradecer, como fizera aquele meu amigo, me mantive calado, o jovem começou a chorar e agradecer, abraçado a mim como se fôssemos velhos conhecidos, aquilo me comoveu.
Enquanto chorava e me abraçava ele começou a dizer:
- Hoje ele amanheceu alegre, bem disposto, então resolvi chamá-lo pra fazer umas entregas comigo, saímos no meu caminhão, conversando, alegremente, e enquanto fazíamos as entregas conversávamos sobre muita coisa, tudo parecia tão bem! Mas à tarde, quando eu estava na Rua Itacolomi, ele teve um mal súbito, fiquei desesperado, larguei as entregas, já não sentia o pulso, saí correndo em direção ao Pronto Atendimento, eu estava desesperado, quando chegamos lá, ele foi atendido em caráter de urgência, até que começou a reagir mas não suportou e cá estamos nós.
Enquanto o jovem, de quem eu nem sabia o nome, me abraçava apertado como um velho amigo, e me relatava tudo o que acontecera, abraçado a mim, chorando e agradecendo a minha presença, eu me mantinha calado, ouvindo emocionado, a cada palavra dita um obrigado era proferido.
Depois que ele me relatou tudo, deu-me outro abraço e retornou à sua dor solitária, agradeci e me direcionei à saída, me dirigi à outra sala, lá também havia um caixão com um outro senhor, também idoso, a sala, como a anterior, também estava vazia, talvez havia menos pessoas ainda, uma jovem senhora sentada ao lado do caixão chorava baixinho, me aproximei fiquei observando e ofereci minhas condolências, ela pegou em minha mão, sem se levantar, me agradeceu e retornou para a sua dor inimaginável.
Saí novamente e fiquei no pátio interno do velório, observando os acontecimentos acabei por aprender muito mais naquele momento de dor do que durante toda a minha vida, a dor aproxima os corações, faz com que percebamos o quanto frágeis somos durante nossa jornada nesse mundo. Não vou me utilizar de vãs filosofias ou me explicar através do óbvio, mas ontem realmente foi um dia de grande crescimento para mim.
Esse é um daqueles momentos que devemos deixar de lado as convencões, as nossas próprias teorias, nossos conceitos e abraçar àquele que sofre, não com os braços, mas com o coração, com nossa alma, com o sincero sentimento de dizer em atos "Estou aqui".
Um grande abraço a todos.
Muito obrigado! E lembrem-se ESTOU AQUI!
Titus●•ツ
 "O Som do Coração" 
 (๏̯͡๏)

"O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta."

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