Os limites
Nossas
limitações são patentes. Não somos o que queremos, não fazemos
tudo que sonhamos, não temos o dom de estar onde desejamos. Dentro
destes limites é que nos movemos. Conhecer os limites pessoais e os
dos outros - pois somos seres que não se repetem - é uma tarefa que
dura toda a vida. O limite também não é algo estático, as pessoas
mudam. Logo, o sistema de comunicação entre as pessoas é algo
dinâmico e tem suas "leis" próprias, que cabe a cada um
descobrir em cada momento. Em vez de gastar tempo reclamando que não
existe comunicação, poderemos empregá-lo, verificando como
estabelecer esta relação.
Por outro lado, quando as pessoas
se aproximam, uma tem em relação a outra uma expectativa. Na
prática existe também um pré-conceito, mas por ora, vale a pena
refletir sobre a expectativa.
Expectativa
Nossas
atividades estão inseridas no contexto da expectativa. Spes em
latim, significa tanto esperança como expectativa de algo feliz. Um
novo emprego, um novo trabalho, uma nova amizade geram expectativas.
Alguns defendem a postura de não ter expectativa de nada, e assim, o
que ocorrer de bom nos fará felizes. Mas isto não condiz com a
etimologia da palavra. Temos esperança de que se agirmos de um modo,
seremos felizes. Se nos relacionamos com alguém, é porque
precisamos deste alguém, ou gostamos de estar com ele.
Quando
um aluno se aproxima do professor para pedir um estágio, ambos têm
uma expectativa. Explicitar estas expectativas um ao outro, evita a
decepção. O combinado não sai caro, reza o ditado popular. Desta
forma se evitaria a conhecida antropofagia...
A antropofagia
nos une, quando os interesses pessoais têm a possibilidade de serem
supridos pelas habilidades alheias. Agumas vezes o aluno apenas quer
uma bolsa, ou aprender uma técnica, publicar um trabalho, decidir
sua vida profissional; ou talvez ele esteja querendo ficar no estágio
uma semana, um mês, um ano... sua vida toda. E como iremos saber se
não perguntarmos? O professor também espera algo do aluno. Às
vezes de modo possessivo, outras vezes de modo diferente, como mão
de obra. Pode pensar também num talento para vida acadêmica, e se
por um lado vê um discípulo, não pode deixar de encobrir as
dificuldades pelas quais irá passar. Mas isto tudo, não passa de
dúvidas. Um tem expectativa do outro, e nada mais lógico e razoável
que exista um diálogo entre ambos, antes de iniciar as atividades.
Alguém tem expectativa de alguém, mas ninguém não tem expectativa
de ninguém... E os outros são para nós alguém... ou
ninguém?!
Compreensão
Compreender
cada um como é, acaba sendo o melhor modo de interagir. As vezes as
pessoas precisam de peixe, outras vezes, precisam de trabalho
educativo sobre a pesca, e sempre atenção externa de outras
pessoas. Todos precisamos de cúmplices em nossas
atividades.
Compreender, querer, perdoar. Esta tríade resume
bem o relacionamento humano ideal. Da cultura popular somos capazes
de lembrar: "Deus perdoa sempre, os homens de vez em quando, a
natureza nunca" ou "Errar é humano, perdoar é divino".
O perdão absoluto é divino. Nós podemos ter o ideal de perdoar,
mas nem sempre conseguimos, como na terrível fórmula: "Perdoar,
eu perdôo; mas esquecer, não esqueço...".
O erro das
pessoas leva às vezes a conseqüências sérias para um perdão
imediato. A reação pessoal ou social contra aquele que errou, pode
ser irasciva, vingativa, punitiva. Mas o que se quer mesmo, é que
aquele que errou, e com isto de certa forma agrediu, reconheça e
mude. Talvez precise sofrer as conseqüências do seu ato para
merecer o perdão. Não reconhecer o próprio erro ou de certa forma
encobri-lo já consiste em parte da pena, por não se adequar com a
verdade. Perdoar antes porém, abre uma porta honrosa para o
agressor, que não precisa gastar tempo se justificando. Aqui vale
mais uma definição do ser humano: aquele que é capaz de se
desculpar e justificar em todos os seus atos, mas que ficaria
envergonhado de manifestar esta desculpa ou justificativa em voz alta
para outros. Sim, as desculpas que damos a nós mesmos para fazer
coisas erradas, não convencem...
O castigo piora o ruim e
melhora o bom, e como o bom deve ser melhorado, não se deve evitar o
castigo. Mas, o ruim? Não merece o castigo, ou além do castigo
precisa de algo para melhorar? Talvez precise também da
compreensão... As pessoas aprendem também pelos erros, próprios ou
alheios, históricos ou do presente. Quanto maior o erro, piores as
conseqüências, e menores as chances de errar de novo. A evidência
do erro para a sociedade mexe com os brios daquele que errou. A
compreensão não pode ser confundida com a cumplicidade no erro; a
cumplicidade está associada ao desejo de ser solidário com a pessoa
que errou e disposição de ajuda para reverter esta situação. Esta
aventura de compreender implica num compromisso. O amigo, é aquela
pessoa que apesar de conhecermos perfeitamente como é, continua
sendo amigo ou: "O amigo é o amigo do amigo".
O
perdão, pode ser imediato ou não, com consequências ou sem elas.
Ora, o tempo é apenas uma convenção, mas nem por isto deixa de
existir... As pessoas, como o bom vinho, melhoram com o tempo ou,
para continuar remetendo a provérbios: "O tempo é o melhor
remédio". As pessoas, como já dissemos, buscam sempre uma
justificativa para os seus atos, e também para perdoar. Em todos
estes casos, é difícil ter a medida, pois a pena deve ser
proporcional a ofensa, e o ofendido mostra que é grande, perdoando.
As leis positivas neste sentido são como que a segurança da
sociedade, na tentativa de se estabelecer uma medida; um verdadeiro
protocolo social a ser atingido.
Sintonia
Uma rádio
que está sintonizada, pode ser escutada sem ruídos, interferências.
Escutar é um ato humano que reflete uma disposição interior. Peter
Drucker dizia que "o verdadeiro comunicador é o receptor".
Escutar é permitir o diálogo. A prática medieval de dialogar num
debate, merece ser lembrada. Enquanto um falava, o outro era obrigado
a escutar, pois antes de colocar seu ponto de vista, era obrigado a
repetir a idéia do primeiro - com sua expressa aprovação - antes
de colocar a sua resposta. Alguns têm o defeito quase físico de não
escutar e a partir deste ponto seguem as discórdias.
Essencial,
importante e acidental
Uma classificação das realidades
pode incluir estas três divisões: essencial, importante e
acidental. Talvez exista desacordo no que incluir em cada item.
Pensar antes de discutir se aquilo é essencial ou importante ou
acidental, em muito reduziria as discussões. Usar a inteligência
para identificar exatamente onde se pretende chegar, também é uma
forma de diminuir os problemas. Seja na via direta, não "criando"
problemas, seja indiretamente, pela compreensão das realidades
limitadas.
"Humildade não faz mal" - esta máxima
popular, ajuda a retratar mais uma vez a dificuldade que temos de
enxergar o mundo real. Por um lado, temos esta deficiência, e por
outro temos a teimosia de justificar os atos errados. Se o diálogo
amigo nos faz ver o erro, nada melhor que reconhecer. A humildade é
a verdade... e a humildade não faz mal!
Ignorância e
preconceito
As pessoas muitas vezes não atuam de modo
errado por má fé, e sim por ignorância. Com certeza fariam de modo
distinto, se soubessem como fazer. Esta tarefa não tem fim, e
questionar-se sobre o empenho pessoal de diminuir o nível de
ignorância, nos faria no mínimo reconhecedores da dívida social
que carregamos. Aprendemos tanto, e por este motivo somos capazes de
questionar as deficiências. Não são os professores e pais os
únicos interessados. Ninguém dá o que não tem, e por isto sempre
temos algo que dar a outrem, e assim diminuir a ignorância.
Outro
ponto é o preconceito... O preconceito gera um prejuízo (e também
um prejuízo). Uma idéia pré-concebida cria uma barreira para
compreender a realidade. Uma pessoa que não queira ouvir, ver ou
escutar, tem muitas vezes o preconceito de não aceitar que os outros
possam pensar de modo diferente.
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