segunda-feira, 18 de maio de 2020

Gratidão

Oi!
Dia 16 de maio é comemorado o dia do gari, apesar disso poucas são as manifestações sobre o tema, haja vista que muitos de nós nem percebemos a sua existência, é uma das muitas categorias "invisíveis" à sociedade, acredito que mesmo eu não a valorizaria se não tivesse a experiência que vou relatar.
Logo que cheguei em Pará de Minas, vindo da cidade de São Paulo, distribuí currículos em todas as empresas e locais, pois necessitava trabalha para sustentar minha família, à época minha filha havia acabado de fazer um ano de nascimento e eu precisava pagar aluguel, comprar mantimentos e arcar com as despesas.
Minha mãe, dentro de suas possibilidades, assumiu esse compromisso até que eu conseguisse trabalhar. Depois de muito procurar não aparecia qualquer proposta, cheguei a ser chamado para entrevistas que não ocorreram mas eu não desistia. Consegui um trabalho momentâneo no antigo bar Gingas Bar, atual Casa Velha, fui chamado pra ser porteiro e segurança do local, mas já no início resolveram que eu poderia ser garçom, trabalhava às quintas, sextas, sábados e domingos à noite, ja dava para cumprir alguns compromissos, e eu realmente gostava daquele trabalho, mas era temporário.
Depois de alguns meses, a empresa de coleta de lixo do município me chamou pra uma entrevista, minha prima havia entregue meu currículo lá, pois ela e meu outro primo já trabalhavam na empresa, ela havia dito que eu estava disposto a trabalhar em qualquer função. Acredito que confiaram em sua fala por causa do trabalho bem realizado tanto dela quanto do meu primo.
Chegando na empresa fui informado que iniciaria no dia seguinte como coletor de caminhão, fiquei tão feliz, começava a ter um trabalho de carteira assinada com todos os direitos e um salário para manter minha família. Me entregaram o uniforme, de cor laranja e os equipamentos de EPI, voltei pra casa todo animado, agradecendo a Deus e Meishu-Sama pela oportunidade.
No dia seguinte, às seis e cinquenta da manhã estava eu no local de início do trabalho, o encarregado me apresentou a turma com a qual eu iria trabalhar e saímos logo depois das orientações sobre o que iríamos fazer.
Vou ser sincero, foi um dia muito difícil, descer correndo, pegar as sacola de lixo e retornar pro caminhão em movimento é bem difícil, precisa ter um preparo físico e equilíbrio além do timing perfeito, senão você se machuca. O dia passou rápido, a rota muito longa e difícil, cheia de subidas e decidas, além de ter de descarregar no antigo "lixão" toda vez que o caminhão ficava cheio. Levei uns dez dias para me acostumar, com o cheiro, o trabalho, a turma e as rotas.
Nos primeiros dias, chegava em casa, tomava um banho e ia deitar não sentia fome, só cansaço e por isso dormia direto. O tempo passou e fui me acostumando, meu corpo se adaptou e meu olfato também, como é interessante a mente humana, por um lado isso é bom mas por outro nem tanto, quando tiver tempo irei detalhar esse pensamento.
Depois de alguns dias comecei e perceber que em alguns casos éramos vítimas de um descaso e até preconceito de algumas pessoas, um exemplo disso era quando pedíamos um copo com água para uma pessoa e na hora que íamos devolver os copos a pessoa dizia que podíamos jogar fora porque estava "contaminado", isso me aborrecia bastante, e eu via que meus colegas já estavam acostumados com esse tratamento. Eu, ao contrário, me sentia frustrado, não concordava com esse tipo de atitude, sentia que precisava mudar, mas como?
Eu aprendi que um trabalho sem objetivo é apenas trabalho, então precisava acha um motivo justo pelo qual Deus havia me colocado naquela função. Com isso em mente e após ler vários títulos no livro "Alicerce do Paraíso", achei um motivo enobrecedor para o meu trabalho. Passei a utilizar o processo conhecido no Japão como "Mitamamigaki" traduzido como "Polimento do espírito", eu sentia a necessidade de mudar meu sentimento em relação às pessoas e ao meu próprio serviço. 
Todos os dias ao acordar, fazia uma oração e desejando mudar meu sentimento, comecei a oferecer o meu trabalho de limpeza na cidade como limpeza espiritual de todas as casas as quais eu e meus colegas recolhíamos o lixo. Desejando que cada saco recolhido fosse uma mácula espiritual e que com isso aquela família evoluísse espiritualmente e com isso alcançando seus desejos e merecimentos, melhorando sua saúde e prosperidade.
Com essa prática diária comecei a ver as famílias com outros olhos, passei a prestar mais atenção ao meu sentimento e percebi que a minha gratidão por elas aumentou consideravelmente, eu já não me sentia frustrado, pelo contrário, estava revigorado e meus colegas também haviam mudado seu temperamento, estavam mais comprometidos com o serviço, sendo mais atenciosos uns com os outros e já não ocorriam reclamações sobre nossa rota, tanto da parte dos funcionários e empresa, quanto das famílias que atendíamos.
Já haviam pessoas em empresas que faziam questão de nos dar lanches e café, mas depois que inciei essa prática silenciosa e altruísta, passamos a ganhar presentes, a ver pessoas na rua nos cumprimentando, desejando bom dia e agradecendo pela nossa missão.
"O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor." Madre Teresa de Calcutá
Alguns meses depois fui convidado a fazer um curso de especialização na sede da empresa em Belo Horizonte, onde pude conhecer seus proprietários e toda a logística da empresa, fiquei no apartamento de outro primo que me proporcionou todo o conforto necessário, e assim, ao retornar, iniciei meus trabalhos no escritório em Pará de Minas, e o mais interessante, todos os funcionários, inclusive meus primos, se sentiram representados, diziam que finalmente havia "um deles" no comando e que isso melhoraria a valorização do seu trabalho.
Muitas outras coisas aconteceram e futuramente detalharei, mas o que me chamou a atenção neste momento foi exatamente a mudança de meu sentimento em relação às pessoas e ao meu trabalho. Realmente confirmei que trabalho sem objetivos é apenas trabalho, mas quando colocamos um sentido, um sentimento verdadeiro como objetivo de vida os resultados são enormemente potencializados, o retorno ocorre de forma exponencial.
"É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria. Isto acontece porque o coração agradecido comunica-se com Deus, e o queixoso relaciona-se com Satanás. Assim, quem vive agradecendo, torna-se feliz; quem vive se lamuriando, caminha para a infelicidade. A frase "Alegrem-se que virão coisas alegres", expressa uma grande verdade." Meishu Sama
Um grande abraço!
Titus●•ツ
 "O Som do Coração" 
 (๏̯͡๏)
"O ser humano possui a vontade imprescindível de se guiar pelas aparências. Consequentemente, as pessoas criam impressões erradas sobre o próximo: acham que conhece mas na verdade não conhecem. E é por tentativa e erro que superamos essa nossa natureza."

Um comentário:

Angela disse...

Quando a gente coloca amor no que faz, independente do que estejamos fazendo, quando damos o nosso melhor, isso muda tudo ao redor...

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