segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tu

Olá!
Este texto é de Jorge Luis Borges, um grande pensador, acabei de lê-lo no livro "Abismo" de Carlos Ribeiro, o qual começarei a ler a partir desse momento.
Resolvi colocar esse texto porque ele representa, em termos mais filosóficos, o que escrevi no post http://kanshahoon.blogspot.com.br/2014/04/e-tempo.html, no qual falo sobre a intemporalidade da vida.
Espero que gostem.
Um grande abraço
Titus●•ツ
 "O Som do Coração" 
 (๏̯͡๏)
 "A única maneira de descobrir os limites do possível está em aventurar-se um pouquinho pelos cenários do impossível".
Tu
Jorge Luis Borges

Um só homem nasceu, um só homem morreu na terra. 
Afirmar o contrário é mera estatística, é uma adição impossível.
Não menos impossível que somar o cheiro da chuva e o sonho que anteontem à noite sonhaste.
Esse homem é Ulisses, Abel, Caim, o primeiro homem que ordenou as constelações, o homem que erigiu a primeira pirâmide, o homem que escreveu hexagramas do Livro das Mutações, o forjador que gravou runas na espada de Hengist, o arqueiro Einar Tamberskelver, Luís de Leon, o livreiro que engendrou Samuel Johnson, o jardineiro de Voltaire, Darwin na proa do Beagle, um judeu na câmara letal, com o tempo, tu e eu.
Um só homem morreu em Ílion, no Metauro, em Hastings, em Austerlitz, em Trafalgar, em Gettysburg.
Um só homem morreu nos hospitais, em barcos, na árdua solidão, na alcova do hábito e do amor.
Um só homem fitou a vasta aurora.
Um só homem sentiu no paladar o frescor da água, o gosto das frutas e da carne.
Falo do único, do uno, do que está sempre só.

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