Olá!
Um lindo texto de autor
desconhecido, acredito que nos dê a oportunidade de autoavaliação.
Um abraço.
Titus●•ツ
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar. Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. [...] Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais."
Minha avó tinha uma inimiga
ferrenha chamada Marina. Elas se mudaram para casas próximas na
pequena cidade onde tinham ido viver. Não sei quem começou a
guerra, pois foi muito antes de eu nascer, e não sei se quando
nasci, uns quarenta anos depois, elas mesmas se lembravam de quem
havia começado. Mas o duro combate continuava, com amargas batalhas.
Era uma contenda travada sem um pingo de educação. Era uma guerra
entre senhoras, o que representava guerra total. Nada na cidade
escapou das conseqüências. A igreja de quatrocentos anos quase
desabou quando a vovó e a senhora Marina travaram a batalha pela
presidência de uma Sociedade local. Vovó ganhou este combate, mas
foi uma vitória sem valor, pois a senhora Marina derrotada,
demitiu-se da Sociedade num acesso de pura raiva.
E qual é a graça
de você dirigir alguma coisa se não puder humilhar sua inimiga
mortal?
A senhora Marina venceu a batalha da Biblioteca Pública,
conseguindo que sua sobrinha Fernanda fosse indicada bibliotecária
no lugar de minha tia Amanda. No dia em que Fernanda tomou posse,
vovó parou de apanhar livros na biblioteca, dizendo que estavam
"cheios de germes", e começou a comprar os livros que
queria ler. A batalha da Escola Secundária terminou empatada. O
diretor conseguiu um emprego melhor e saiu antes que a senhora Marina
o tirasse de lá ou vovó conseguisse mantê-lo lá para sempre.
Além
dessas batalhas mais sérias, aconteciam constantes ataques e recuos
na linha de tiro. Quando éramos crianças e visitávamos vovó,
parte da diversão consistia em fazer caretas para os terríveis
netos da senhora Marina que revidavam com igual truculência.
Corríamos atrás das galinhas e púnhamos bombinhas nos trilhos do
bonde bem em frente à casa da senhora Marina com a doce esperança
de que, ao passar, o bonde provocasse uma explosão que a fizesse
morrer de susto.
Num dia histórico, pusemos uma cobra na calha de
chuva da senhora Marina. Minha avó ainda ensaiou um protesto, mas
sentimos sua solidariedade, bem diferente dos veementes "nãos"
de mamãe, e prosseguimos na nossa carreira de crianças endiabradas.
Não pense, nem por um minuto que só havia um lado nessa guerra.
Lembrem-se de que a senhora Marina também tinha netos bem mais
valentões e espertos do que os netos de vovó. Os pestinhas puseram
gambás no porão de sua casa e esta foi a agressão mais suave.
O
fato é que qualquer incidente na casa de vovó foi atribuído aos
parentes da senhora Marina. Não sei como vovó poderia ter suportado
todos esses problemas se não fosse pelo caderno feminino do jornal
diário. A página era uma instituição maravilhosa. Além das
usuais dicas de cozinha e conselhos sobre limpeza, havia uma seção
de troca de cartas para que as leitoras pudessem desabafar seus
problemas. Para que o anonimato fosse mantido, as cartas vinham
assinadas com um pseudônimo. O de vovó era Serena (que ironia!!!).
Outras pessoas que tivessem o mesmo problema respondiam, dando a
solução encontrada e também usando seus pseudônimos.
Muitas
vezes, exposto o problema, as leitoras ficavam trocando cartas por
anos através do jornal, falando sobre filhos, doces em conserva ou a
mobília nova da sala de jantar. Foi isso que aconteceu com vovó.
Ela e uma mulher chamada Andorinha se corresponderam por vinte e
cinco anos, e vovó dizia a Andorinha coisas que jamais confessara a
ninguém, como a vez em que contou que pensava estar grávida (e não
estava) ou quando meu tio Célio pegou piolho na escola e vovó ficou
profundamente humilhada. Andorinha era sua amiga do coração.
Quando
eu tinha dezessete anos, a senhora Marina morreu. Numa cidade
pequena, mesmo que você deteste a vizinha, faz parte das regras de
educação se oferecer para ajudar a família enlutada no que for
necessário. Vovó atravessou o gramado, deu os pêsames às filhas e
começou a ajuda-las a limpar a já imaculada sala de visitas para o
funeral. De repente, viu aberto sobre uma mesa, num lugar de
destaque, um enorme álbum de recortes. Para seu mais absoluto
estarrecimento ali estavam coladas, em colunas paralelas, as cartas
dela para Andorinha e as de Andorinha para ela. A maior inimiga de
vovó fora, na verdade, sua melhor amiga. Foi a única vez que me
lembro de ter visto minha avó chorar.
Eu não sabia naquela época
por que ela estava chorando, mas agora sei. Chorava por todos os anos
perdidos que não poderiam ser recuperados. Naquele momento fiquei
tão impressionado com as lágrimas de minha avó, que não me dei
conta da descoberta fundamental que começava a fazer. Uma descoberta
que se transformou em convicção e que tem me ajudado imensamente a
viver.
As pessoas podem parecer
insuportáveis. Podem parecer egoístas, mesquinhas e hipócritas.
Mas, se não procurarmos olha-las sob outra ótica, nunca seremos
capazes de descobrir que são também generosas, amorosas e bondosas.
E, se não lhes dermos a oportunidade de revelarem seus segredos e
aspectos positivos, procurando sempre falar com elas e não delas,
ficaremos sempre privados do bem que elas poderão nos proporcionar.
(Autor desconhecido)
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