Olá!
Eis uma das histórias de minha infância.
Com cinco anos de idade entrei para a escola já alfabetizado. À época fui submetido a uma simples avaliação na qual deveria escrever o alfabeto completo, depois as vogais e por último completar algumas palavras copiando-as corretamente de um modelo prévio. Fiz aquela simples provinha e fui aprovado para o tão falado prezinho, onde crianças que completariam 7 anos iriam cursar. Mal sabia eu que o motivo de ser aceito não fora por ter acertado as pequenas questões mas sim por ter assinado meu nome no final, sem que ninguém me solicitasse, dessa forma, aos cinco anos, iniciei minha aventura acadêmica (risos), fazendo amigos, brincando, estudando aprendendo, mas isso não vem ao caso.
No final do mês de outubro, do ano seguinte, houve uma avaliação de leitura em sala, o campeão de leitura ganharia um grande presente, foi uma disputa acirrada, haviam garotos e garotas que liam com uma maestria irreparável, mas eu, já com meus sete longos anos, estava preparado, lembrem-se comemoro o meu aniversário no mês de julho.
Minha leitura, modéstia a parte, foi irreparável, minha desenvoltura, apesar da minha timidez natural, foi inigualável e minha interpretação através da impostação de voz foi incrível, por isso, merecidamente abocanhei o grande prêmio, toda a coleção dos Irmãos Grimm.
Foi fascinante, deslumbrante, o mundo da fantasia se descortinou à minha frente, li ávidamente toda a coleção, um conto melhor que o outro e por isso, resolvi relembrar uma das histórias que mais marcaram e se fixaram na minha alma, "A SERPENTE BRANCA", espero que gostem como a criança que existe em mim gostou, leiam para os seus filhos! Tenho certeza que irão prestar a maior atenção.
Um grande abraço.
Titus●•ツ
"O Som do Coração" (๏̯͡๏)
"Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente."
A serpente branca
Grimm: Jakob & Wilhelm
Há muitos e muitos
anos, vivia um rei muito celebrado por sua sabedoria. Nada era oculto para
ele. Era como se o conhecimento das coisas mais secretas chegasse até ele pelo
ar. Mas tinha um estranho costume. Quando a refeição do meio-dia acabava, a
mesa era tirada e não havia mais ninguém presente, um criado de confiança lhe
trazia um prato a mais. Esse prato era coberto. Nem mesmo o criado sabia o que
havia ali dentro. Nem ele nem mais ninguém, porque o rei só tirava a tampa e comia
depois que ficava sozinho.
Um dia, depois que isso
já acontecia há algum tempo, o criado não aguentou mais de curiosidade na
hora de levar o prato embora. Secretamente o carregou para seu quarto, trancou a
porta com cuidado e, quando levantou a tampa, viu que dentro havia uma serpente
branca. Depois de ver a cobra,
não aguentou ficar sem dar uma provadinha. Cortou um pedaço bem pequeno
dela e o pôs na boca. Assim que o pedacinho da serpente tocou a língua dele, o
criado começou a ouvir sussurros suaves e estranhos do lado de fora da janela.
Quando se debruçou para ver o que era, descobriu que as vozes que murmuravam eram de
pardais conversando, que contavam uns aos outros tudo o que tinham visto pelos
bosques e campos. Provar a serpente tinha lhe dado o poder de entender a linguagem
das aves e dos animais.
Ora, aconteceu que
justamente naquele dia desapareceu o melhor anel da rainha. Como o criado
de confiança tinha toda a liberdade para ir onde bem entendesse no palácio,
suspeitaram que o tivesse roubado. O rei mandou chamá-lo e brigou com ele, dizendo
que, a não ser que ele desse o nome do ladrão até o dia seguinte, seria
considerado culpado e decapitado. Não adiantou jurar inocência. O
rei
mandou-o embora sem uma
palavra de consolo.
Com medo e se sentindo
desgraçado, ele foi até o quintal e ficou pensando, vendo se encontrava um
jeito para sair daquela situação. Alguns patos estavam calmamente sentados na
beira de um riacho, à vontade, se alisando com o bico e batendo papo. O criado
parou e escutou. Cada um dizia aos outros o que tinha acontecido em
todos os lugares por onde tinha nadado naquela manhã, e toda a comida gostosa que
tinha comido. Mas um deles disse, queixoso:
— Estou com um peso
no estômago... Estava comendo tão depressa que engoli um anel que
estava no chão bem embaixo da janela da rainha...
O criado rapidamente
agarrou o pato pelo pescoço, levou-o direto para a cozinha e disse ao
cozinheiro:
— Olha só que pato
gordo... Se eu fosse você, assava ele.
— É mesmo... —
disse o cozinheiro, pesando o pato com a mão. — Já que ele se esforçou para
ganhar tanto peso, é tempo agora de ir para o forno.
Cortou o pescoço do
pato e depois, quando estava limpando a ave para assar, encontrou o anel
da rainha no estômago dela. Com isso, não foi difícil o criado convencer o rei de sua
inocência. Querendo reparar a injustiça que tinha feito, o rei lhe perguntou se havia
alguma coisa que ele desejasse, e lhe ofereceu o cargo que ele quisesse escolher
na corte.
O criado recusou todas
as honras e disse que só queria um cavalo e um pouco de dinheiro,
porque desejava ver o mundo e viajar um bocado. O rei logo lhe deu o que queria, e ele
partiu.
Um dia, passando por um
lago, notou que três peixes estavam presos nuns caniços e estavam
ficando sem água. Dizem que os peixes são mudos, mas ele ouviu muito bem como
eles gemiam se lamentando, diante da morte horrível que os esperava. Como era um
bom sujeito, desceu do cavalo e pôs os três cativos novamente na água.
Eles puseram as cabecinhas de fora, se abanando de alegria, e
disseram:
— Vamos lembrar disso
e recompensar você por nos ter salvo.
Ele continuou seu
caminho e, pouco depois, ouviu uma voz que vinha da areia a seus pés.
Prestou atenção e ouviu a queixa do rei das formigas:
— Se os humanos
conseguissem manter seus animais desajeitados bem longe de nós, seria
ótimo! Esse cavalo estúpido com esses cascos imensos e pesados está esmagando
meu povo sem piedade...
Ouvindo isso, o criado
saiu por um caminho lateral, e o rei das formigas gritou:
— Vamos lembrar disso
e recompensar você...O caminho levava a uma floresta. Lá, ele viu
um casal de corvos empurrando os filhotes para fora
do ninho:
— Fora, seus
marmanjões! — gritavam. — Não podemos mais encher as barrigas de vocês. Já
estão bem grandinhos para buscarem sua própria comida.
Os pobres filhotes
batiam as asas desajeitados e não conseguiam levantar-se do chão.
— Ainda somos
filhotes indefesos... — gritavam. — Como é que podemos arranjar comida se
ainda nem sabemos voar? Vocês vão nos fazer morrer de fome!
Ouvindo isso, o bom
jovem apeou, matou o cavalo com a espada e deu sua carne para alimentar os
filhotes de corvo. Eles vieram saltitando, comeram até se fartar, e disseram:
— Vamos lembrar disso
e recompensar você.
Daí para a frente, ele
teve que usar as pernas. Depois de muito caminhar, chegou a uma grande
cidade. As ruas estavam cheias de barulho e movimento. Um homem a cavalo
anunciava que a filha do rei estava procurando marido, mas que quem quisesse pedir a
mão dela precisava primeiro cumprir uma tarefa muito difícil e, se falhasse, perderia a
vida. Muitos já tinham tentado, mas arriscaram a vida à toa.
Quando o jovem viu a
filha do rei, ficou tão estonteado com a beleza dela que se esqueceu do perigo, foi
até o rei e se apresentou como pretendente.
Foi levado diretamente
à beira do mar. Lá, diante de seus olhos, jogaram n'água um anel de
ouro. Depois, o rei lhe disse que ele precisaria ir buscar o anel lá no fundo. E
acrescentou:
— Se você sair da
água sem ele, será jogado de volta, tantas vezes quantas necessário, até
morrer nas ondas.
Os cortesãos todos
ficaram com pena do jovem e lamentaram sua sorte, tão bonito. Depois,
deixaram-no sozinho na praia.
Ele ficou um pouco ali
parado, pensando no que ia fazer. De repente, viu três peixes nadando em sua
direção — justamente os três cujas vidas ele tinha salvo. O do meio tinha uma
concha na boca. Depositou-a na praia, junto aos pés do rapaz.
Quando ele pegou a
concha e abriu, viu que dentro estava o anel de ouro.
Todo contente, levou o
anel até o rei, esperando receber a recompensa prometida. Mas a
princesa era muito prosa e, quando viu que ele era inferior a ela
em nascimento, desprezou-o e disse que ele ia precisar cumprir uma
segunda tarefa.
Desceu até o jardim e
espalhou dez sacos cheios de farelo pelo meio da grama.
— Você vai ter que
recolher tudo isso até amanhã, antes do sol nascer — disse ela —, sem
faltar nem um grãozinho.
O rapaz sentou no
jardim e começou a pensar em um jeito de cumprir a tarefa, mas não lhe
ocorria nada. E lá ficou ele, tristíssimo, esperando que o levassem para a morte
quando o dia nascesse. Mas quando os primeiros raios do sol chegaram ao jardim, ele
viu que os dez sacos estavam de pé, cheios até a borda, sem faltar nem um
grãozinho. O rei das formigas tinha vindo durante a noite, com milhares e milhares de
formigas, e os bichinhos agradecidos tinham juntado todos os grãos de farelo dentro
dos sacos outra vez.
A filha do rei veio em
pessoa até o jardim e ficou espantadíssima de ver que a tarefa tinha sido
cumprida. Mas seu coração prosa ainda se recusava a se render.
Por isso, ela disse:
— Ele cumpriu as duas
tarefas. Mas não será meu marido enquanto não me trouxer um fruto da
árvore da vida.
O rapaz nem sabia onde
ficava essa árvore da vida. Partiu procurando, resolvido a andar até
onde as pernas o levassem, mas sem qualquer esperança de encontrar.
Uma noite, depois de
procurar por três reinos, ele chegou a uma floresta.
Sentou-se debaixo de
uma árvore e estava quase adormecendo quando ouviu um barulho nos galhos e
uma fruta de ouro caiu em suas mãos. Ao mesmo tempo, três corvos desceram voando
da árvore, pousaram em seus joelhos e disseram:
— Nós somos os
filhotes de corvo que você não deixou morrer de fome.
Quando crescemos e
ouvimos dizer que você estava procurando a fruta de ouro, voamos por cima do mar
até o fim do mundo, onde cresce a árvore da vida, e pegamos a fruta.
Muito contente, o rapaz
voltou para casa. Deu a fruta de ouro para a princesa e, depois
disso, ela não tinha mais desculpa. Dividiram a maçã da vida e a comeram juntos. Aí o
coração dela se encheu de amor por ele, e os dois viveram até a velhice numa
felicidade perfeita.
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